FUVEST 2024 - 1ª Fase - V

Tempo de nos aquilombar

É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo no grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.

É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.

É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algemas,
e sim acertada tática, necessário esquema.

É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos
e que venham dias futuros, salve 2020
A mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.

Conceição Evaristo. Jornal O Globo, 31/12/2019.

O verso “É tempo de formar novos quilombos” é um exemplo de

  • a

    paradoxo, na medida em que propõe retomar o passado num contexto atual.

  • b

    metonímia, já que os quilombos fazem parte de um novo contexto cultural, sem relação com o passado.

  • c

    metáfora, representando uma união coletiva como forma de resistência social.

  • d

    antítese, ao relacionar a noção de tempo passado a uma nova configuração de futuro.

  • e

    hipérbole, apresentando o termo “quilombos” no plural para indicar o grau de difusão do movimento.

Tanto o título do poema “Tempo de nos aquilombar” quanto o percurso argumentativo que termina no último verso (“a liberdade é uma luta constante”) evidenciam a necessidade de união coletiva e resistência social, tal como era comum nos quilombos. A essa relação de semelhança dá-se o nome de metáfora.