Ela desatinou
Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
Bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando
Ela desatinou
Viu morrer alegrias
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela inda está sambando
Ela não vê que toda gente
Já está sofrendo normalmente
Toda a cidade anda esquecida
Da falsa vida da avenida onde
Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
Bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando
Ela desatinou
Viu morrer alegrias
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela inda está sambando
Quem não inveja a infeliz
Feliz no seu mundo de cetim
Assim debochando
Da dor, do pecado
Do tempo perdido
Do jogo acabado
Chico Buarque de Hollanda, 1958.
a) Explique quais são os universos em oposição apresentados na letra da canção e exemplifique com dois versos.
b) Considerando a ambiguidade presente no verso “Os dias sem sol raiando”, transforme a oração reduzida de gerúndio em duas possíveis orações desenvolvidas, contemplando os diferentes sentidos do verso.
a) Os universos em oposição são: o do Carnaval, da festa, da alegria, do desatino, da celebração, da loucura, presente em versos como “E ela inda está sambando”, “Feliz no seu mundo de cetim” ou “Assim debochando”; e o da Quarta-feira de Cinzas, do fim da festa, marcado pela tristeza e pela volta à rotina, como acontece em “Acabar brincadeira”, “Bandeiras se desmanchando”, “Viu morrer alegrias” ou “Já está sofrendo normalmente”.
b) No contexto, raiar pode significar “brilhar”, em referência ao sol, ou “nascer”, “surgir”, em referência ao dia. Assim, duas possibilidades de reescrita do verso “Os dias sem sol raiando” seriam:
- Os dias sem sol que brilha/ que raia
- Os dias sem sol que nascem/ surgem (é possível ainda a inversão: Os dias que nascem / surgem sem sol)