A volta do marido pródigo

— Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem? 

— Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]

Lá além, Generoso cotuca Tercino:

— [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!...

— Que é que ei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...

— Hum...

— Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar...

[...]

Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja:

— Quem não tem brio engorda!

— É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... — opina Sidu. 

— Também, tudo p'ra ele sai bom, e no fim dá certo.... — diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. — "P'ra uns, as vacas morrem ... p'ra outros até boi pega a parir...".

Seu Marra já concordou:

— Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!

ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.

Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido 

  • a

    à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal. 

  • b

    à referência a profissões já extintas que caracterizam a vida no campo. 

  • c

    aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.

  • d

    ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos. 

  • e

    às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições.

O trecho inclui o registro de dois provérbios: “quem não tem brio não engorda” e “P´ra uns, as vacas morrem... p’ra outros até boi pega a parir”. Esse registro contribui para a preservação da cultura nacional.