De fato, a própria organização espacial da cidade denota uma elisão de qualquer forma de democracia, com a segregação das massas populares, com os traçados apropriados ao automóvel, e com o sistema fabril tendo sido erigido como modelo para o planejamento que visa à produtividade dos espaços com a harmonia social.

Nesse sentido, a concepção urbanística de Brasília, cidade que nasceu como forma de controle social, é bastante adequada para sediar a cúpula de qualquer Estado autoritário [...].

(José William Vesentini. A capital da geopolítica, 1986.)

A caracterização de Brasília pelo excerto apresenta-a como uma cidade

  • a

    projetada a partir de uma perspectiva socialista, para conciliar as noções de poder popular e economia planificada.

  • b

    reestruturada no decorrer do regime militar, para eliminar as características democráticas do projeto, tornando-a autoritária.

  • c

    inadequada ao período em que foi edificada, quando o Brasil vivia uma inédita experiência de participação política direta.

  • d

    concebida num momento de integração nacional, quando o governo brasileiro buscava transferir o comando econômico para o centro-sul do país.

  • e

    planejada e construída segundo uma lógica política centralizadora, para abrigar a sede do poder, afastando-a da sociedade.

Construída durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), a cidade de Brasília foi erguida para ser a nova capital do país. Com um traçado moderno e desenho planejado, a cidade servia ao discurso de integração nacional promovido por JK e à ideia de imparcialidade e de centralização, por estar localizada no centro geográfico do país. Vale ressaltar que, apesar do discurso otimista do governo em relação à nova capital, Brasília distanciou a sociedade do poder político, ao ser construída distante dos núcleos mais povoados e populares do Brasil.