As Ondas
Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto-mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:
Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.
Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabastro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;
E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva...
(Olavo Bilac, Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919, p.48)
Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a
A seleção lexical do soneto “As Ondas” traz referências naturais de origem marítima e mineral (ondas, pérolas, algas, pedrarias, ônix, alabastro, opala, âmbar), associadas a expressões alusivas ao corpo humano (coxas, ventres, quadris, seios, bocas) e ao encontro amoroso, com dimensão sexual (gemidos, beijos). Assim, o movimento das ondas é concebido como metáfora da relação sexual, em uma realização estética condizente com os princípios norteadores da estética parnasiana, da qual Olavo Bilac foi o principal representante no Brasil (vocabulário erudito e preciosista, regularidade métrica e rimas).