Os meios de transporte e comunicação em massa, as mercadorias, casa, alimento e roupa, a produção irresistível da indústria de diversões e informação trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, certas reações intelectuais e emocionais que prendem os consumidores mais ou menos agradavelmente aos produtores e, através destes, ao todo. Os produtos doutrinam e manipulam; […] E, ao ficarem esses produtos benéficos à disposição de maior número de indivíduos e de classes sociais, a doutrinação que eles portam deixa de ser publicidade; torna-se um estilo de vida.

(Herbert Marcuse. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional, 1973.)

Marcuse critica o modelo de produção da sociedade industrial, que, segundo o texto, se expressa na

  • a

    manipulação, pela propaganda, de consumidores e produtores.

  • b

    defesa, pela publicidade, de valores masculinos e patriarcais.

  • c

    substituição da pureza do artesanato pela ganância da fábrica.

  • d

    alienação do trabalhador provocada pelo trabalho fabril.

  • e

    imposição cultural de hábitos e atitudes individuais.

A crítica de Marcuse tem por base o processo de coisificação e mercantilização desenvolvido no âmbito da sociedade industrial, e o trecho específico se refere a um aspecto também particular da alienação: a doutrinação deixa de ser publicidade e “torna-se um estilo de vida”. Isso ocorre quando a imposição de comportamentos, hábitos e atitudes induzidos pela chamada indústria cultural é alimentada por interesses de setores dominantes da sociedade, que controlam os meios de comunicação. Desse modo, as mercadorias culturais geradas por poucos centros produtores podem atingir a muitos consumidores, configurando uma cultura de massa, com grande poder de persuasão sobre os indivíduos.