O quilombo significou uma alternativa concreta à ordem escravista — e, por isso, tornou-se um problema real e bastante amedrontador para a sociedade colonial e para as autoridades, que precisavam combatê-lo de modo sistemático. Mas, ao mesmo tempo, o quilombo era parte da sociedade que o reprimia, em função dos diversos vínculos que tinha com os diferentes setores desta. Tais vínculos, de natureza muito variada, incluíam a criação de toda sorte de relações comerciais com as populações vizinhas, a formação de redes mais ou menos complexas para obtenção de informações e, como não poderia deixar de ser, o cultivo de um sem- -número de laços afetivos e amorosos que se entrecruzavam nas periferias urbanas e nas fazendas.

(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia, 2018.)

Os quilombos existentes no Brasil colonial podem ser caracterizados como espaços

  • a

    de permanência provisória, a que os fugitivos recorriam até que conseguissem alforria ou pudessem escapar para países vizinhos, onde a escravidão já havia sido abolida. 

  • b

    tolerados pelos organismos policiais e repressivos da colônia, pois continham áreas importantes de produção de alimentos, que contribuíam para alimentação dos escravizados. 

  • c

    articulados à ordem estabelecida da sociedade colonial, pois resultavam da lógica do escravismo e, ao mesmo tempo, mantinham conexões regulares com comunidades e cidades próximas. 

  • d

    de refúgio, que conseguiam sustentar-se e garantir a sobrevivência daqueles que neles se abrigavam, a partir da autossuficiência econômica e do completo isolamento. 

  • e

    de extrema violência, cujos moradores sofriam tanto com os ataques sistemáticos de bandeirantes quanto com a tirania dos chefes, que reproduziam internamente a lógica escravista da sociedade.

Ao longo da história da escravidão no Brasil, a formação de quilombos representou uma das principais estratégias de resistência ao escravismo.

Os quilombos estiveram articulados à ordem escravista estabelecida na sociedade colonial, mas em contraposição a ela. Esses núcleos de resistência à escravidão resultavam da lógica do escravismo. Afinal, a existência dos quilombos foi consequência de estruturas de poder e organização socioeconômica moldadas  a partir da escravidão.

Apesar de alguns quilombos terem se formado em regiões isoladas, foram frequentes, também, suas conexões regulares com comunidades e cidades próximas às regiões em que se localizavam. Esses laços ocorreram por meio de vínculos variados, envolvendo relações comerciais, trocas de informações e até mesmo práticas afetivas individuais.