Diversos projetos abolicionistas invadiram a cena política brasileira no último quarto do século XIX. O de André Rebouças foi um dos mais radicais. Mulato, baiano, filho de um membro da elite política imperial, engenheiro militar, dedicou-se à modernização de portos e à construção de estradas. Dedicado a compreender os mecanismos que emperravam o desenvolvimento do país, chegou à conclusão de que vivíamos um bloqueio estrutural para a emergência de indivíduos livres. A libertação dos escravos, por si só, não seria suficiente. Entendia a abolição como um primeiro passo, ao qual se seguiria uma necessária eliminação do monopólio da terra, pois a autonomia individual só seria possível com a transformação do ex-escravo em pequeno produtor independente.
(Adaptado de Maria Alice Rezende de Carvalho, A terra prometida. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 32, maio de 2008. Disponível em http://www.rhbn.com.br/secao/capa/a-terra-prometida. Acessado em 28/09/2015.)
a) Por que o projeto de André Rebouças foi caracterizado como um projeto radical?
b) Identifique e caracterize outro projeto abolicionista que divergia do projeto de Rebouças.
a) O Abolicionista André Rebouças, acompanhado de outros como Joaquim Nabuco, defendeu a visão de que a inclusão dos trabalhadores libertos só se daria por completo para além da abolição da escravatura. Uma política agrária de distribuição de terras era ameaça frontal aos interesses dos grandes proprietários, e a possibilidade de negros ex-escravos se constituírem em cidadãos chocava-se diretamente com a ideologia conservadora e autoritária dominante.
b) A campanha abolicionista transcorreu no Império em meio à polêmica sobre a liberdade formal e a inclusão dos libertos. Contra a visão de Rebouças contrapunha-se o projeto oficial de setores das elites, baseado nos princípios da extinção gradativa da escravidão e na indenização dos proprietários pelo Estado. Tal perspectiva remontava à prevista por José Bonifácio, ainda no Primeiro Reinado, e pode se considerar presente nas promulgações de leis como a do Ventre Livre, em 1871.