Em ensaio publicado em 2002, Nicolau Sevcenko discorre sobre a repercussão da obra de Euclides da Cunha no pensamento político nacional.

“Acima de tudo Euclides exaltava o papel crucial do agenciamento histórico da população brasileira. Sua maior aposta para o futuro do país era a educação em massa das camadas subalternas, qualificando as gentes para assumir em suas próprias mãos seu destino e o do Brasil. Por isso se viu em conflito direto com as autoridades republicanas, da mesma forma como outrora lutara contra os tiranetes da monarquia. Nunca haveria democracia digna desse nome enquanto prevalecesse o ambiente mesquinho e corrupto da ‘república dos medíocres’(...). Gente incapaz e indisposta a romper com as mazelas deixadas pelo latifúndio, pela escravidão e pela exploração predatória da terra e do povo. 

(...) Euclides expôs a mistificação republicana de uma ‘ordem’ excludente e um ‘progresso’ comprometido com o legado mais abominável do passado. Sua morte precoce foi um alívio para os césares. A história, porém, orgulhosa de quem a resgatou, não deixa que sua voz se cale.”

(Nicolau Sevcenko, O outono dos césares e a primavera da história. Revista da USP, São Paulo, n. 54, p. 30-37, jun-ago 2002.)

a) No último período do texto, há uma ocorrência do conectivo “porém”. Que argumentos do texto são articulados por esse conectivo?

b) Apresente o argumento que embasa a posição atribuída a Euclides da Cunha em relação ao lema da Bandeira Nacional.

a)  O conector adversativo “porém” estabelece uma relação de oposição entre a ideia de que a morte de Euclides foi um alívio para as elites republicanas e a percepção de que a voz do escritor continua viva. Assim, apesar de a morte do autor ter sido “um alívio para os césares”, a tese de que o Brasil tinha, no início da República, “uma ‘ordem’ excludente e um ‘progresso’ comprometido com o legado mais abominável do passado” – defendida por Euclides – continua sendo resgatada pela História.

b) Euclides julgava que o Brasil, no início da República, continuava a não investir em “educação em massa das camadas subalternas”, problema que existia desde a época monárquica. Para ele, prevalecia um “ambiente mesquinho e corrupto da ‘república dos medíocres’”, que não enfrentava “as mazelas deixadas pelo latifúndio, pela escravidão e pela exploração predatória da terra e do povo”. Tudo isso serve de argumento para a tese de que o Brasil viva “a mistificação republicana de uma ‘ordem’ excludente e um ‘progresso’ comprometido com o legado mais abominável do passado”.