No texto 1, foi solicitada ao candidato a elaboração de uma resenha da fábula “A Deliberação Tomada pelos Ratos”, de La Fontaine. Para elaborá-la em conformidade com a cena enunciativa proposta pela Banca, era necessário observar todas as instruções relativas ao gênero, à situação de interlocução e aos propósitos da resenha a ser redigida.
O gênero resenha se caracteriza, por um lado, pela síntese do objeto de análise (neste caso, um texto literário), por outro, por uma apreciação pessoal que dele o resenhista faz. Diferentemente de uma síntese, em que opiniões próprias são inconvenientes ao gênero, a resenha é marcada por uma visão subjetiva acerca da obra resenhada. A fim de guiar a construção do texto, garantindo-lhe a observação dos aspectos que o configurariam como uma resenha, a Banca solicitou que ela contivesse uma síntese da fábula, a menção a uma situação social análoga ao texto de La Fontaine e um fechamento em que se evidenciassem relações entre o problema coletivo e o tema da fábula. A observação desses elementos já daria conta de estruturar o texto como resenha, mas outros constituintes dariam mais contorno ao gênero: a linguagem formal e a indicação do título (e do autor) da obra resenhada – conforme a própria Banca destaca em suas instruções.
Na situação de interlocução proposta, o enunciador deveria ser um estudante universitário que escreve a resenha da fábula para a comissão julgadora do Centro de Apoio ao Estudante da faculdade, órgão que promoveu o concurso de resenhas com a intenção de estimular a leitura de obras literárias e ampliar o horizonte cultural dos estudantes. Nesse contexto, o enunciatário deve ser um público amplo, já que os dez melhores textos do concurso seriam publicados posteriormente.
Os propósitos da resenha são explicitados no parágrafo de instrução: além da síntese do enredo envolvendo o gato Rodilardo, a assembleia dos ratos e a moral temática com que o autor encerra a fábula, o candidato precisava indicar também os elementos constitutivos do texto, fazendo menção à parte narrativa, figurativa, concreta, em que personagens desempenham ações em dado lugar e tempo, e a parte opinativa, temática, abstrata, em que se fixa a interpretação da realidade que estava embutida na narrativa. Outra exigência é a menção a uma situação social análoga ao tema da fábula e a explicitação de sua relação com a história – porção em que a avaliação subjetiva do autor da resenha ficaria evidente. O candidato poderia, então, associar ao tema vários fatos do cotidiano que envolvam um problema coletivo, a necessidade de seu enfrentamento e a inexistência de medidas práticas, tamanha a dificuldade e o temor de empreendê-las – prender o guizo ao pescoço do gato atemoriza a todos os ratos. Poderiam ser citadas, por exemplo, discussões sobre política, corrução, violência que se travam em redes sociais, mas que não rendem frutos eficazes por causa da dificuldade e/ou medo de afrontamento do poder político, econômico que suscita a discussão.