No capítulo CXIX das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador declara: “Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas* das muitas que escrevi por esse tempo.” Nos itens a) e b) encontram-se reproduzidas duas dessas máximas. Considerando-as no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede.
* “Máxima”: fórmula breve que enuncia uma observação de valor geral; provérbio.
a) “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.”
Pode-se relacionar essa máxima à maneira de viver do próprio Brás Cubas? Justifique sucintamente.
b) “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.”
A atitude diante do sofrimento alheio, expressa nessa máxima, pode ser associada a algum aspecto da filosofia do “Humanitismo”, formulada pela personagem Quincas Borba? Justifique sua resposta.
a) Brás Cubas era um membro da elite escravocrata que nunca trabalhou na vida. Sua existência foi toda entregue a ocupações fúteis ou a projetos megalômanos e egocêntricos. Essa postura pode ser associada à atitude de “matar o tempo”, referida na máxima. Por mais que essa existência pareça prazerosa, ela também está inserida na natural evolução do tempo e é submetida à inarredável presença da morte. Daí a noção de que “o tempo nos enterra” − perspectiva melancólica que marca toda a obra.
b) A máxima de Brás Cubas está perfeitamente adequada à teoria do Humanitismo, pois essa filosofia é a expressão de um individualismo que afirma explicitamente a necessidade de “adorar-se a si próprio” e que exalta a chamada “lei do mais forte”. Dessa forma, desde que o prazer subjetivo seja mantido, pouco importa a dor do próximo. Quincas Borba, o autor da filosofia, chega a afirmar que a dor “é uma pura ilusão”.