Assinale a alternativa na qual se pode detectar nos versos do poeta português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) uma ruptura com a convenção arcádica do locus amoenus (“lugar aprazível”).

  • a

    “Olha, Marília, as flautas dos pastores
    Que bem que soam, como estão cadentes!
    Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
    Os Zéfiros brincar por entre flores?”

  • b

    “O ledo passarinho que gorjeia
    Da alma exprimindo a cândida ternura,
    O rio transparente, que murmura,
    E por entre pedrinhas serpenteia:”

  • c

    “Se é doce no recente, ameno Estio
    Ver tocar-se a manhã de etéreas flores,
    E, lambendo as areias e os verdores,
    Mole e queixoso deslizar-se o rio;”

  • d

    “A loira Fílis na estação das flores,
    Comigo passeou por este prado
    Mil vezes; por sinal, trazia ao lado
    As Graças, os Prazeres e os Amores.”

  • e

    “Já sobre o coche de ébano estrelado,
    Deu meio giro a Noite escura e feia;
    Que profundo silêncio me rodeia
    Neste deserto bosque, à luz vedado!”

Bocage foi o maior poeta português do século XVIII. Em muitos de seus poemas, fugiu das convenções árcades, predominantes no período. O locus amoenus (lugar agradável) era uma das tópicas do Arcadismo, e Bocage tratou do tema em seus textos. No entanto, também elaborou cenários compostos de elementos sombrios e macabros, mais propriamente caracterizados como locus horrendus (lugar horrendo). É o que se nota nos versos da alternativa E: a atmosfera noturna é marcada pelo terror (“Noite escura e feia”), e o eu lírico descreve o bosque em que está como um ambiente escuro (“à luz vedado”) e silencioso (“profundo silêncio me rodeia”).