Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai

e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,

Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. 

Jorge Amado, Capitães da Areia.

*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Das propostas de substituição para os trechos sublinhados nas seguintes frases do texto, a única que faz, de maneira adequada, a correção de um erro gramatical presente no discurso do narrador é:

  • a

    “Assim mesmo morrera negro, morrera pobre.”: havia morrido negro, havia morrido pobre. 

  • b

    Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.”: Omolu dizia, no entanto, que não fora. 

  • c

    “Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina.”: mas tão pouco sabiam da vacina. 

  • d

    “Mas para que seus filhos negros não o esqueçam [...].”: não lhe esqueçam.

  • e

    “E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas [...].”: numa noite em que os atabaques.

Em ordem direta, a oração assumiria a seguinte forma: “os atabaques batiam nas macumbas numa noite”. O termo “numa noite” é adjunto adverbial de tempo, introduzido pela preposição “em”. Como ele é retomado pelo pronome relativo “que”, este deve ser precedido da mesma preposição: numa noite em que (=na qual) os atabaques.