Seria ingenuidade procurar nos provérbios de qualquer povo uma filosofia coerente, uma arte de viver. É coisa sabida que a cada provérbio, por assim dizer, responde outro, de sentido oposto. A quem preconiza o sábio limite das despesas, porque “vintém poupado, vintém ganhado”, replicará o vizinho farrista, com razão igual: “Da vida nada se leva”. (...)

Mais aconselhável procurarmos nos anexins não a sabedoria de um povo, mas sim o espelho de seus costumes peculiares, os sinais de seu ambiente físico e de sua história. As diferenças na expressão de uma sentença observáveis de uma terra para outra podem divertir o curioso e, às vezes, até instruir o etnógrafo.

Povo marítimo, o português assinala semelhança grande entre pai e filho, lembrando que “filho de peixe, peixinho é”. Já os húngaros, ao formularem a mesma verdade, não pensavam nem em peixe, nem em mar; ao olhar para o seu quintal, notaram que a “maçã não cai longe da árvore”

Paulo Rónai, Como aprendi o português e outras aventuras.

Considere as seguintes afirmações sobre os dois provérbios citados no terceiro parágrafo do texto.

I. A origem do primeiro, de acordo com o autor, está ligada à história do povo que o usa.

II. Em seu sentido literal, o segundo expressa costumes peculiares dos húngaros.

III. A observação das diferenças de expressão entre esses provérbios pode, segundo o pensamento do autor, ter interesse etnográfico.

Está correto apenas o que se afirma em

  • a

    I.

  • b

    II. 

  • c

    III.

  • d

    I e II. 

  • e

    I e III.

Das três assertivas sobre os dois provérbios presentes no terceiro parágrafo, apenas a primeira e a terceira são válidas. A primeira encontra sua validade no trecho “Povo marítimo, o povo português [...]”; a terceira se valida pelo texto como um todo, e, como descreve características de dois povos, pode, sim, – segundo o autor – ter interesse etnográfico.
A segunda está equivocada, pois o cultivo de maçãs não é uma característica pela qual os húngaros sejam lembrados, reconhecidos, portanto não se trata de algo “peculiar” a eles.