(...) pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria
de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de
cinco mil réis.
– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
– Sim? acudiu ele, dando um bote pra mim.
– Trabalhando, concluí eu. Fez um gesto de desdém;
calou-se alguns instantes, depois disse-me positivamente
que não queria trabalhar.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2001, p.158.)
O trecho citado diz respeito ao encontro entre Brás Cubas e Quincas Borba, no capítulo 49, e, mais precisamente, apanha o momento em que Brás dá uma esmola ao amigo. Considerando o conjunto do romance, é correto afirmar que essa passagem
Na passagem de Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador, ao recomendar que Quincas Borba ganhasse a vida trabalhando, por um lado, mostra que o amigo de infância está inequivocamente numa posição social inferior à sua e, por outro, sugere que é possível ascender socialmente por meio do trabalho. Faça-se, porém, a ressalva de que o conselho para que Quincas trabalhe, no contexto da obra, é irônico, uma vez que Brás Cubas não valoriza o trabalho, tanto que ele termina o romance dizendo que lhe coube “a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do [...] rosto”. Assim, seria mais adequado que a alternativa D dissesse: “[...] um narrador que parece valorizar o trabalho [...]".