Leia os textos para responder à questão.

Texto 1

Texto 2

Uma dentre as várias equações que fundam o Brasil enquanto país é: governar é produzir incêndios. Marcado por uma ideia de modernidade impulsionada pela crença de que modernizar é tomar posse de um terreno baldio, amorfo, pretensamente sem culturas autóctones ditas desenvolvidas, a fim de torná-lo "produtivo", o Brasil foi criado por incêndios. Diante das queimadas que agora retornam, devemos nos lembrar que a destruição pelo fogo é nossa maior herança colonial.

V. Safatle, "Governar é produzir incêndios". Adaptado.

a) Reescreva o fragmento "pretensamente sem culturas autóctones ditas desenvolvidas", substituindo as palavras sublinhadas por outras de sentido equivalente.

b) Explique por que tanto o enunciado "É fogo!", no texto 1, quanto "governar é produzir incêndios", no texto 2, apresentam mais de um sentido no contexto em que foram empregados.

a) Esta é uma das reescritas possíveis: “supostamente sem culturas autóctones consideradas desenvolvidas”

Podem-se, ainda, empregar outros sinônimos:

Pretensamente: hipoteticamente, alegadamente, presumidamente...

Ditas: vistas como, tidas como, reputadas, julgadas...

b) As duas expressões podem ser tomadas mais literalmente como se referindo às queimadas. Entretanto, como em ambos os contextos essa prática é condenada, é possível interpretá-las como expressões idiomáticas, em que os termos “fogo” e “incêndio” passam a ser vistos como “problemas” a serem enfrentados. 

No cartaz, o enunciado “é fogo” pode ser entendido:

- mais literalmente, como uma menção ao fenômeno das queimadas;

- como expressão idiomática (é fogo = é difícil, é complicado), revelando, assim, a posição crítica do IPAM a esse fenômeno: a de que ele é um problema sério que deve ser combatido.

No texto de Safatle, o enunciado “governar é produzir incêndios” pode ser entendido:

- mais literalmente, como uma referência a políticas governamentais sobre áreas florestais que consistem em apoiar a prática da queimada nessas áreas;

-  como uma crítica irônica do autor sobre essas políticas, pois, uma vez que a expressão idiomática “apagar incêndio” significa “resolver problemas graves e urgentes”, dizer que o governo está “produzindo incêndios” sugere que ele, mais do que se mostrar inepto aos inevitáveis problemas que deverá enfrentar, mostra-se disposto a criar outros graves.