Leia o texto e responda à questão.

"Eu só quero a minha liberdade de volta". O pedido é um dos mais comuns entre as crianças e os adolescentes que viram suas vidas se transformarem há mais de quatro anos, quando a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, se rompeu, formando um tsunami de rejeitos de minério que engoliu o vilarejo rural de Bento Rodrigues, em Mariana (Minas Gerais), e atingiu outros distritos da região. Após a tragédia, as famílias dos atingidos foram alocadas em casas alugadas em Mariana. Recomeçar uma nova rotina, no entanto, não tem sido fácil para os jovens. Além da adaptação ao novo território, as crianças também sofrem com o preconceito e o bullying. "Ainda há hostilização por parte dos moradores de Mariana. No início, quando eles frequentavam as mesmas escolas, eles eram chamados de pé de lama e marilama. Muitas vezes, eram culpados pelo encerramento das atividades da Samarco. Grande parte das falas das crianças são uma reprodução das dos adultos", explica a psicóloga. Apesar de os jovens das cidades atingidas estarem estudando em instituições de ensino próprias, havia relatos de que eles evitavam circular na cidade com o uniforme da Escola Municipal de Bento Rodrigues, por exemplo.

H. Mendonça. "Filhos e órfãos de Mariana e Brumadinho enfrentam a infância interrompida por uma tragédia que não acabou". Adaptado.

a) Explique o processo de formação da palavra "marilama", sublinhada no texto, identificando as semelhanças sonoras entre as formas originárias que se sobrepõem nessa nova formação.

b) Identifique uma atitude dos jovens do vilarejo rural de Bento Rodrigues que revele a tentativa de apagamento de suas identidades. Justifique sua resposta.

a) A expressão “marilama” é um neologismo, que parece nascer da aglutinação entre “Mariana” e “lama”. É como se as duas sílabas finais de “Mariana” fossem substituídas por “lama”, fundindo o nome da cidade aos rejeitos gerados pelo rompimento da barragem de Fundão.

Não é absurdo considerar também que “marilama” pudesse ser a justaposição de “mar” + “e” + “lama” (pois, no caso, o /e/ passa por elevação vocálica e é pronunciado como /i/) ou mesmo a aglutinação entre “mar” + “de” + “lama”, num paralelismo com a expressão “pé de lama”. Em ambos os casos, a mistura entre mar e lama seria uma forma de, pelo sentido e pela sonoridade, remeter ao “tsunami de rejeitos de minério que engoliu o vilarejo rural de Bento Rodrigues”.

b) As crianças, de acordo com o texto, “evitavam circular na cidade com o uniforme da Escola Municipal de Bento Rodrigues”, para que elas não fossem reconhecidas e, por extensão, para que elas não continuassem a ser vítimas de preconceito e bullying em Mariana.