7258454

Leia o poema de Fernando Pessoa para responder à questão.

Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.

(Obra poética, 1997.)



Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.

(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)

O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso

  • a

    “Todos os dias o via. Estou” (2ª estrofe) 

  • b

    “E isto diz que é morte aquilo onde estou.” (4ª estrofe) 

  • c

    “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5ª estrofe) 

  • d

    “Mas ao menos a ele alguém o via,” (5ª estrofe) 

  • e

    “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1ª estrofe)

Na oração “Mas ao menos a ele alguém o via”, o verbo “ver” foi empregado como transitivo direto e o seu objeto aparece duas vezes, uma na forma de um oblíquo tônico preposicionado (“a ele”), outra na de um oblíquo átono (“o”).