Leia abaixo alguns excertos do poema Menimelímetros, de Luz Ribeiro, poeta do Slam das Minas de São Paulo. Esse poema foi apresentado performaticamente em alguns slams de que ela participou no Brasil.

os menino passam liso
pelos becos e vielas
os menino passam liso
pelos becos e vielas
os menino passam liso
pelos becos e vielas

você que fala em becos e vielas
sabe quantos centímetros cabem em um menino?
sabe de quantos metros ele despenca
quando uma bala perdida o encontra?
Sabe quantos nãos ele já perdeu a conta? (...)

esses menino tudo sem educação
que dão bom dia, abrem até o portão
tão tudo fora das grades escolares
nunca tiveram reforço – de ninguém
mas reforçam a força e a tática
do tráfico, mais um refém (...)

que esses meninos sem nem carinho
não tem carrinho no barbante
pensa que bonito se fosse peixinho fora d’água
a desbicar no céu
mas é réu na favela
lhe fizeram pensar voos altos
voa, voa, voa...aviãozinho

e os menino corre, corre, corre
faz seus corres, corres, corres (...)

“ceis” já pararam pra ouvir alguma vez os sonhos
dos meninos?
é tudo coisa de centímetros:
um pirulito, um picolé
um pai, uma mãe
um chinelo que lhe caiba nos pés

um aviso: quanto mais retinto o menino
mais fácil de ser extinto
seus centímetros não suportam 9 milímetros
porque esses meninos
esses meninos sentem metros

a) O título Menimelímetros é um neologismo que funde ao menos duas palavras. Quais são essas palavras? Transcreva os versos que sintetizam o título do poema.

b) Na terceira estrofe, há um jogo de palavras. Identifique esse jogo de palavras e explique a relação de causa e consequência estabelecida por ele.

a) O título “Menimelímetros” parece ser a aglutinação de “menino” e “milímetros”. Os versos que melhor sintetizam o título do poema são: “quanto mais retinto o menino / mais fácil de ser extinto / seus centímetros não suportam 9 milímetros”.

b) No contexto, as palavras “grades” e “reforço” estabelecem duplos sentidos. No primeiro caso, o termo pode referir-se ao horário escolar e pode sugerir uma prisão. No segundo, o termo remete tanto ao reforço escolar quanto à falta de uma estrutura familiar mais sólida. Nessa terceira estrofe, a falta de educação (“esses menino tudo sem educação” e “tão tudo fora das grades escolares / nunca tiveram reforço – de ninguém”) empurra esses garotos para o mundo da criminalidade (“reforçam a força e a tática / do tráfico, mais um refém”), estabelecendo uma relação de causa e consequência.