Durante anos, Penélope esperou que seu marido, Ulisses, retornasse da Guerra de Troia (IX e VII a.C.). Essa viagem é o tema da Odisseia, poema épico grego atribuído a Homero. Como os anos passavam e não havia notícias de Ulisses, o pai de Penélope sugeriu que ela se casasse novamente. Diante da insistência do pai, resolveu aceitar a corte dos pretendentes, com a condição de que o novo casamento somente aconteceria depois que ela terminasse de tecer um sudário, que ficou conhecido como “Tela de Penélope”, que serviria de mortalha para Laerte, pai de Ulisses. Durante o dia, aos olhos de todos, Penélope tecia, e à noite, secretamente, desmanchava todo o trabalho. Com esse artifício, adiava a escolha de outro marido até a volta de Ulisses.
(Adaptado de Penélope, Wikipedia. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%A9lope. Acessado em 09/01/2021.)
Penélope (I)
O que o dia tece
a noite esquece.
O que o dia traça
a noite esgarça.
De dia, tramas,
de noite, traças.
De dia, sedas,
de noite, perdas.
De dia, malhas,
de noite, falhas
(Ana Martins Marques, A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009, p. 105.)
a) Como as palavras “traça” (na segunda estrofe) e “traças” (na terceira estrofe) constroem uma relação antitética no poema?
b) No poema, a palavra “tramas” remete a Penélope por duas razões. Quais são elas? Explique.
a) As palavras referidas constroem uma relação antitética porque o verbo “traça”, na segunda estrofe, indica aquilo que o dia constrói por meio do encadeamento sucessivo dos fatos. Já o substantivo “traças”, na terceira estrofe, remete ao inseto que se alimenta de celulose ou de tecidos e que, portanto, está associado à destruição. No texto, essa antítese remete ao ato de Penélope construir o seu manto durante o dia e destrui-lo à noite.
b) A palavra está duplamente associada a Penélope, pois pode ser uma referência aos fios do manto e, também, aos planos, maquinações e complôs com que Penélope enganava os pretendentes, desmanchando todo trabalho realizado durante o dia.