Texto 1

O dilema das redes (2020) aborda um dilema comum em documentários desse tipo. É, sem dúvida, importante a denúncia vinda dos empresários desse setor que lucraram muito com a criação de empresas digitais que monopolizam as redes: a revelação de seu funcionamento, de seus preocupantes efeitos sobre as pessoas e de sua perniciosa influência em processos políticos – uma espécie de crise de consciência. Contudo, eles parecem não entender exatamente que são eles os protagonistas. Empenhados em desenvolver uma “ferramenta” capaz de integrar as pessoas, viram-se enredados nessa rede cuja finalidade era prender a atenção e servir de plataforma de marketing.

Ora, é evidente que são empresas que querem lucros, portanto, não são exatamente “ferramentas”. O documentário afasta a resposta simples de que o produto que vendem são os dados capturados por essas plataformas. Elas funcionam mapeando comportamentos e padrões de modo a dirigir a oferta do produto com um alto grau de certeza de consumo. E é aqui que a discussão fica interessante: qual é, afinal, o produto? A resposta do documentário é simples: nós.

Texto 2

a) Considerando o primeiro parágrafo do texto 1, indique dois substantivos a que a expressão “viram-se enredados” se refere.

b) Considere a charge (Texto 2) e, com base na finalidade das “ferramentas” (discutidas no primeiro e no segundo parágrafos do Texto 1), explique por que o dilema não é da rede.

a) A expressão “viram-se enredados” refere-se aos substantivos “empresários” e “protagonistas”.

b) O A charge propõe que o dilema não está na rede (a ferramenta em si), mas no pescador (aquele que a tece e a usa). O texto I faz referência ao dilema cotidianamente vivido por parte dos criadores e pelos usuários das redes sociais. Ele mostra que a finalidade inicial dessas ferramentas, “integrar pessoas”, foi submetida a propósitos publicitários. Devido à capacidade de mapear o comportamento dos consumidores e dirigir a oferta de produtos com alto grau de certeza de consumo, essas redes sociais deixaram de ser meras ferramentas, passivas, e passaram a ter a capacidade, ativa, de manipular pessoas. Daí deriva, por um lado, o dilema de seus criadores que, “enredados” pelas próprias redes, padeceram uma crise de consciência que os levou à denúncia de seus efeitos perniciosos e, por outro, o dilema dos usuários das redes, que, a cada vez que delas se valem para interagir com outras pessoas, criam dados com os quais são enredados por elas, a ponto de se converterem em “produto”.