Caso pluvioso
A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
E eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuva fininha e chuva grossa,
Matinal e noturna, ativa... Nossa!
ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952 (fragmento).
Considerando-se a exploração das palavras “maria” e “chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal recurso expressivo é um(a)
O termo “chuvosíssima”, presente no poema, constitui um neologismo, expressão da inventividade do eu lírico. A palavra “maria” é empregada de forma inusitada no texto, uma vez que exerce a função de predicativo do sujeito em “A chuva era maria”, e também assume a função de sujeito do verbo “chover” - que, tradicionalmente, é um verbo impessoal na língua portuguesa - em “maria é que chovia”. O emprego dessas expressões no poema representa, portanto, um uso criativo da língua e a criatividade é um traço definidor da linguagem literária, o que torna a alternativa C correta.