Viajo Curitiba das conferências positivistas, elas são onze em Curitiba, há treze no mundo inteiro; do tocador de realejo que não roda a manivela desde que o macaquinho morreu; dos bravos soldados do fogo que passam chispando no carro vermelho atrás do incêndio que ninguém não viu, esta Curitiba e a do cachorro-quente com chope duplo no Buraco do Tatu eu viajo.
Curitiba, aquela do Burro Brabo, um cidadão misterioso morreu nos braços da Rosicler, quem foi? quem não foi? foi o reizinho do Sião; da Ponte Preta da estação, a única ponte da cidade, sem rio por baixo, esta Curitiba viajo.
Curitiba sem pinheiro ou céu azul, pelo que vosmecê é — província, cárcere, lar —, esta Curitiba, e não a outra para inglês ver, com amor eu viajo, viajo, viajo.
TREVISAN, D. Em busca de Curitiba perdida. Rio de Janeiro: Record, 1992.
A tematização de Curitiba é frequente na obra de Dalton Trevisan. No fragmento, a relação do narrador com o espaço urbano é caracterizada por um olhar
O narrador figura uma viagem pela cidade de Curitiba, vista de uma perspectiva negativa, no sentido de colocar em destaque o que falta ou o não se comporta da maneira esperada: “o tocador de realejo que não roda a manivela”, o “incêndio que ninguém não viu”, a identidade desconhecida do cidadão que morreu em um local suspeito, a ponte “sem rio por baixo”. A última negativa do texto ocorre quando o autor se recusa a viajar por “outra” Curitiba, aquela feita “para inglês ver”, o que evidencia o esforço de desconstrução de paisagens convencionalmente associadas à cidade.