Chiquito tinha quase trinta quando conheceu Mariana num baile de casamento na Forquilha, onde moravam uns parentes dele. Por lá foi ficando, remanchando. Fez mal à moça, como costumavam dizer, tiveram de casar às pressas. Morou uns tempos com o sogro, descombinaram. Foi só conta de colher o milho e vender. Mudou pra casa do velho Chico Lourenço [seu pai]. Fumaça própria só viu subir um par de anos depois, quando o pai repartiu as terras. De tão parecidos, pai e filho nunca combinaram direito. Cada qual mais topetudo, muitas vezes dona Aparecida ouvia o marido reclamar da natureza forte do filho. Ela escutava com paciência e respondia dum jeito sempre igual:

— “Quem herda, não rouba”.

Vinha um brilho nos olhos, o velho se acalmava.

ROMANO, O. Casos de Minas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

Os ditados populares são frases de sabedoria criadas pelo povo, utilizadas em várias situações da vida. Nesse texto, a personagem emprega um ditado popular com a intenção de

  • a

    criticar a natureza forte do filho. 

  • b

    justificar o gênio difícil de Chiquito. 

  • c

    legitimar o direito do filho à herança. 

  • d

    conter o ânimo violento de Chico Lourenço. 

  • e

    condenar a agressividade do marido contra o filho.

Nesse contexto, o ditado popular “Quem herda, não rouba” era utilizado por dona Aparecida para que o velho Chico Lourenço, seu marido, parasse de “reclamar da natureza forte do filho”. Por ser uma frase carregada de sabedoria, atingia facilmente seu objetivo comunicativo – o de produzir um efeito curativo ou pacificador, dada a reflexão que provocava: “Vinha um brilho nos olhos, o velho se acalmava”.