Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo do horizonte... Na várzea, ao clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros... As montanhas, subindo ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas... Os caminhos, espreguiçando-se sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas... As árvores soltas choravam ao vento, como carpideiras fantásticas da natureza morta... Os aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em uma angústia desesperada.
ARANHA, J. P. G. Canaã. São Paulo: Ática, 1997.
No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma expressividade centrada na percepção da
Os recursos de linguagem mobilizados pelo narrador do trecho de Canaã, de Graça Aranha, concorrem para a criação de uma expressividade que revela a confluência entre a paisagem e o estado emocional da personagem. O início do texto já indica essa relação entre o estado de espírito e a natureza: ”na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la.” Os recursos expressivos utilizados na continuidade da descrição (principalmente metáforas e comparações) reforçam a visão da natureza como produto de uma perspectiva alterada.