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Texto para a questão:

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava "Então, por que você quer saber, se já sabe? Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção se mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.



Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difícil interlocução com o indígena, o narrador

  • a

    abandona a ideia de investigar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo.

  • b

    explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insistir em permanecer na aldeia.

  • c

    age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto.

  • d

    identifica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interrogativo e se deixar questionar.

  • e

    sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia.

No trecho, Leusipo, um índio da tribo Krahô, interpela o narrador a respeito das intenções de sua visita à aldeia. O narrador tenta explicar que está fazendo pesquisas para um livro, mas o argumento é encarado com má vontade pelo interlocutor, que não vê com bons olhos a curiosidade inerente à condição de investigador. No final do trecho, sem conseguir explicar de forma convincente as razões de sua visita, o narrador manifesta sua frustração.