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Texto para a questão:

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava "Então, por que você quer saber, se já sabe? Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção se mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.



As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tentativa de disfarçar o caráter

  • a

    fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô.

  • b

    investigativo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô.

  • c

    politico do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô.

  • d

    etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô.

  • e

    biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô.

A narrativa de Nove noites gira em torno da investigação que o narrador realiza sobre a misteriosa morte do antropólogo norte-americano Buell Quain, ocorrida nas matas brasileiras, em 1939. O narrador visita a aldeia Krahô, do Maranhão, onde Quain passara algumas semanas. A experiência não é muito prazerosa, como mostra o trecho, que registra o tom agressivo dos indígenas. No entanto, o narrador consegue contato com um dos sobreviventes do período em que o antropólogo viveu ali.