6999651

Texto para a questão:

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas

Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Ai, palavras, ai, palavras, 
sois de vento, ides no vento, 
no vento que não retorna, 
e, em tão rápida existência, 
tudo se forma e transforma! 

Sois de vento, ides no vento, 
e quedais, com sorte no va! (...)

Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Perdão podíeis ter sido! 
- sois madeira que se corta, 
- sois vin te degraus de escada, 
- sois um pedaço de corda... 
- sois povo pelas janelas, 
cortejo, bandeiras, tropa... 

Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Éreis um sopro na aragem... 
- sois um homem que se enforca!

Cecilia Meireles, Romanceiro da inconfidência.
 

 



A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre

  • a

    fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.

  • b

    forma abstrata no espaço e presença concreta na história.

  • c

    leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.

  • d

    sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.

  • e

    lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.

O excerto do romance LIII explora a “estranha potência” das palavras, relacionada à dualidade de elas serem feitas de vento, um elemento sutil, e, ao mesmo tempo, desencadearem transformações reais. O trecho destaca que as palavras foram a causa da criação de coisas concretas ligadas à execução do alferes Tiradentes, tais como “madeira que se corta”, “vinte degraus de escada”, “pedaço de corda”, “povo pelas janelas/cortejo, bandeiras, tropa...”.