Texto 1

“Algumas vozes nacionais estão tentando atualmente encaminhar a discussão em torno da identidade ‘mestiça’, capaz de reunir todos os brasileiros (brancos, negros e mestiços). Vejo nesta proposta uma nova sutileza ideológica para recuperar a ideia da unidade nacional não alcançada pelo fracassado branqueamento físico. Essa proposta de uma nova identidade mestiça, única, vai na contramão dos movimentos negros e de outras chamadas minorias, que lutam pela construção de uma sociedade plural e de identidades múltiplas.”

(Kabengele Munanga, Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional versus Identidade Negra. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 16.)

Texto 2

“Os meus olhos coloridos/ Me fazem refletir/ Eu estou sempre na minha/ E não posso mais fugir/ Meu cabelo enrolado/ Todos querem imitar/ Eles estão baratinados/ Também querem enrolar/ Você ri da minha roupa/ Você ri do meu cabelo/ Você ri da minha pele/ Você ri do meu sorriso/ A verdade é que você,/ (Todo brasileiro tem!)/ Tem sangue crioulo/ Tem cabelo duro/ Sarará crioulo.”

(Macau, “Olhos Coloridos”, 1981, gravada por Sandra de Sá. Álbum: “Sandra de
Sá”. RCA.)

Considerando o alerta de Munanga em relação a algumas “vozes nacionais”, a canção de Macau

  • a

    resgata o antigo ideal da identidade nacional única. 

  • b

    aponta a possibilidade de uma identidade múltipla. 

  • c

    atesta que a pluralidade se opõe ao movimento negro. 

  • d

    insiste nas lutas das minorias por uma unidade.

Com base no alerta do Munanga quanto às “vozes nacionais”, que tentam encontrar uma identidade nacional única, a canção de Macau – em que se afirma que todo brasileiro “Tem sangue crioulo / Tem cabelo duro” – resgata, em outra perspectiva, esse ideal da identidade única. Todos nós teríamos, entre nossos antepassados, sararás e crioulos. Isso tornaria correta a alternativa A.

Mas não é absurdo pensar que os “olhos coloridos” associados ao “cabelo enrolado” - além das diferenças fenotípicas que se podem inferir que enunciador e enunciatário apresentam na canção - apontam para a possibilidade de uma identidade múltipla, que, embora revele um elemento comum (o “sangue crioulo”), não deixa de reconhecer a pluralidade e a diversidade. Isso tornaria correta a alternativa B.