Tradicionalmente, o palco pode apresentar uma variedade de estilos cênicos, entre os quais se destacam o estilo realista (põe em evidência detalhes ambientais para sugerir sensações e emoções vividas pelas personagens), o estilo expressionista (os objetos são distorcidos ou estilizados, com o fim de sugerir, mais que mostrar, o ambiente de atuação das personagens), o estilo simbolista (os objetos concretos sugerem ideias abstratas, segundo associações sinestéticas tradicionais: o verde, vestido pelos mágicos, indica a esperança; o vermelho, a cor do demônio, sugere uma paixão violenta; a veste branca simboliza a candura, a castidade).

(Adaptado de Salvatore D´Onofrio, Teoria do texto 2: Teoria da lírica e do
drama. São Paulo: Ática, 1995, p. 138.) 

Sem identidade, hierarquias no chão, estilos misturados, a pós-modernidade é isto e aquilo, num presente aberto pelo e.

(Jair Ferreira dos Santos, O que é o pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004,
p. 110.) 

Com base nas indicações cênicas (as didascálias) que abrem e fecham a peça O marinheiro, de Fernando Pessoa, é correto afirmar que o seu estilo é

  • a

    expressionista, dadas a ausência de ações dramáticas e a presença de sugestões alegóricas como, por exemplo, o canto do galo.

  • b

    simbolista, uma vez que os elementos que compõem a cena dramática sugerem alguns significados de natureza filosófica.

  • c

    realista, porque as imagens da noite, do luar e do alvorecer indicam precisamente a passagem do tempo.

  • d

    pós-modernista, tendo em vista que os objetos descritos criam uma atmosfera mágica, na qual a ilusão não se distingue da realidade.

Entre as definições estilísticas apresentadas nos textos-base, a mais adequada às didascálias inicial e final de O marinheiro é aquela que aponta o teor simbolista dos trechos. Na didascália inicial, o “castelo antigo”, onde está o quarto que serve de cenário, simboliza proteção e transcendência (pela posição de superioridade); a circularidade do quarto sugere um espaço que une as personagens em cena, integrando-as em uma mesma impressão de sonho; o fogo das tochas que iluminam o quarto aponta para uma atmosfera de purificação; a noite reafirma o mistério que percorrerá toda a peça. Na didascália final, o canto do galo anuncia a chegada do dia, que é referida várias vezes nas falas das veladoras; o silêncio com que a peça termina pode ser uma sugestão de morte; ao longe, “um vago carro geme e chia”, insinuando uma realidade imprecisa (“vago”) e um som de estertor, também alusivo à morte (“geme e chia”).