“Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas partes são tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro.”
(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 79.)
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os argumentos da pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas. Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no sermão.
Nos Sermões de Quarta-Feira de Cinzas, o Padre Antônio Vieira desenvolve uma reflexão em torno da morte, buscando mostrar que é preciso abdicar de valores materiais, promovendo a morte em vida, para se preparar para a vida após a morte, isto é, a vida eterna. No trecho transcrito, o uso da anáfora indica: a sucessão de períodos da existência material (“em idades, em anos, em meses, em dias, em horas”), as incertezas em cada um desses períodos (“tão duvidosas, tão incertas”) e, por fim, o desengano provocado por essas incertezas (“não há idade tão florente, nem saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada”).