A pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.
Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que
A resposta dada pelo Inep aponta, no poema de Olavo Bilac, manifestações de um discurso segundo o qual “a prosperidade individual” e “a exuberância da terra” independem de políticas governamentais. É bem verdade que o poema menciona uma terra que “jamais negou a quem trabalha/ o pão que mata a fome”, relacionando o sucesso individual às condições naturais do país. No entanto, há uma distância entre não se mencionar explicitamente “o governo” e deduzir-se disso que, segundo o enunciador, políticas governamentais não são necessárias para o sucesso dos indivíduos. Ainda que se admita a existência de tal discurso, não há no texto indicadores inequívocos de que tal visão de mundo seja assumida.
Optamos pela alternativa D, que foi descartada pela Banca, provavelmente, por conta deste raciocínio: a capacidade produtiva não garantiria ao país a riqueza verificada naquele período histórico, uma vez que, segundo o poema, é necessário ainda o empenho de “quem trabalha”. Essa interpretação, entretanto, desconsidera que o conceito de “país” não pode excluir as pessoas que constituem um país.
Defendemos então a seguinte leitura: tendo em vista que, no período da Primeira República Brasileira (também conhecida como “República Velha”), a produção agrícola era a base da economia, pode-se dizer que “o país trabalhava” e a capacidade produtiva da terra lhe garantia a prosperidade.
Gabarito oficial: B
Gabarito Anglo: D