Carta ao Tom 74

Rua Nascimento Silva, cento e sete
Você ensinando pra Elizete
As canções de canção do amor demais
Lembra que tempo feliz
Ah, que saudade, Ipanema era só felicidade
Era como se o amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
Esse Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
E além disso se via da janela
Um cantinho de céu e o Redentor
É, meu amigo, só resta uma certeza,
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor

MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua história, sua gente. São Paulo: Universal; Philips, 1975 (fragmento).

O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do gênero textual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor

  • a

    compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio urbano.

  • b

    troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na cidade.

  • c

     façam confidências, uma vez que não se encontram mais no Rio de Janeiro.

  • d

    tratem pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida citadina.

  • e

    aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos. 

Na interlocução com o receptor, o emissor recorda tempos passados em uma cidade que se transformou: “Ipanema era só felicidade” — verso no qual a forma verbal no passado sugere uma transformação urbana. Outros versos confirmam essa visão nostálgica: “Lembra que tempo feliz”, “A que ponto a cidade turvaria/Esse Rio de amor que se perdeu”.