A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” , apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO I
Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.
WALSELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.
TEXTO II
BRASIL. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Balanço 2014. Central de Atendimento à Mulher: Disque 180. Brasília, 2015. Disponível em: www.spm.gov.br. Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).
TEXTO III
Disponível em: www.compromissoeatitude.org.br. Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).
TEXTO IV
O IMPACTO EM NÚMEROS
Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e varas especializados
Fontes: Conselho Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional e Secretaria de Políticas para as Mulheres
Disponível em: www.istoe.com.br. Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).
INSTRUÇÕES:
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
• tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “texto insuficiente”.
• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
• apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto.
Análise da proposta
A prova de redação do Enem manteve seu formato: determinou a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo sobre um problema da realidade brasileira, exigindo proposta de intervenção que respeitasse os direitos humanos. Neste ano, a questão posta em debate foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
O participante deveria perceber o pressuposto de que existe violência contra as mulheres, de que já houve avanços contra isso, mas que estes ainda não são suficientes. Para orientar a discussão, foram apresentados textos de diferentes gêneros, verbais e não verbais.
Os textos I e II trazem números sobre diversas formas de violência. O primeiro trata do significativo número de casos e do aumento deles entre 1980 e 2010. O segundo esclarece que, embora a violência física lidere o número de ocorrências relatadas, há outras formas de abuso (psicológico, moral, sexual, etc.).
Os textos III e IV apresentam dois caminhos diferentes para lidar com o problema: a conscientização e a criminalização. A partir deles, seria possível desenvolver análises sobre o problema e propostas de intervenção.
Encaminhamentos possíveis
As análises poderiam levar em conta variados aspectos. Destacamos algumas sugestões:
- inserção do debate na perspectiva dos direitos humanos: toda forma de discriminação é contrária à efetiva universalização do acesso aos direitos fundamentais da pessoa humana, não poderia ser diferente;
- importância do feminismo, que, ao defender a igualdade de gênero, combate a violência contra a mulher e exige que a sociedade reveja comportamentos, costumes e leis;
- insuficiência no atendimento às vítimas, já que apenas um terço dos processos é julgado;
- naturalização de práticas cotidianas que validam o pensamento machista, como piadas preconceituosas e o assédio às mulheres;
- atribuição de culpa às próprias vítimas da violência, sem reconhecer os entraves que impedem sua reação;
- relação entre violência e contexto social: a pobreza e a exclusão tornam as mulheres mais desprotegidas;
- impacto da desigualdade de gênero no acesso ao poder econômico e político, o que impulsiona o comportamento discriminatório.
Algumas possíveis propostas de intervenção
- Como muitas mulheres que sofrem violência têm poucas condições econômicas de buscar uma situação mais segura, a ampliação de programas de distribuição de renda e microcrédito é uma forma de empoderamento que pode favorecer a reversão do cenário.
- Implementação, pelos governos, de medidas de proteção ou prevenção. O vagão exclusivo para mulheres em transportes públicos (conhecido como “vagão rosa”) pode ser citado como exemplo, embora seja importante debater seu possível efeito segregacionista.
- A lei Maria da Penha precisa ser implementada com maior rigor. Os juizados especiais e demais órgãos públicos devem receber mais verbas dos governos e contar com mais profissionais: juízes, promotores, delegados, policiais e servidores.
- Campanhas para denúncia sobre a gravidade e a persistência do problema, que procurem mobilizar a população para denunciar casos e informar as vítimas sobre possibilidades de atendimento, bem como desestimular que se comentam mais abusos com a ameaça da punição. Essas campanhas podem ser feitas não apenas por governos e órgãos públicos, mas também por ONGs, escolas, empresas, entre outros agentes. Entre os veículos a serem utilizados, as novas mídias, como redes sociais e programas de transmissão de mensagens, são uma opção para atingir sobretudo a população mais jovem.
- O Legislativo deve implementar ações afirmativas que contribuam para o acesso mais igualitário de mulheres a posições de poder, tanto no setor público quanto no privado. Pode haver reservas de vagas em casas legislativas, tribunais e, por meio de incentivos fiscais, em empresas. Afinal, a falta de representatividade e acesso ao poder é uma das causas para a persistência do desrespeito contra o gênero feminino.