TEXTO PARA A QUESTÃO.

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.
Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.

*sesta: repouso após o almoço.

O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é:

  • a

    Para bom entendedor, meia palavra basta. 

  • b

    Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 

  • c

    Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 

  • d

    Um dia é da caça, o outro é do caçador. 

  • e

    Uma andorinha só não faz verão.

A questão exige que se estabeleça a relação entre um texto de Gonçalo M. Tavares e cinco ditados populares, que aparecem nas alternativas. A Banca solicita que o candidato assinale aquele que “se relaciona melhor com o poema”.
O texto de Tavares representa o tema da injustiça, por meio das figuras da “planta”, que “é perturbada em sua sesta”, e do “exército” e da “bota”, que, apesar de pisarem na planta, fragilizam-se ao fazê-lo.
Trata-se de um conflito entre opressor e oprimido, entre brutalidade e delicadeza, entre violência e pacifismo, com um desfecho surpreendente, pois o ator que figurativiza inicialmente a opressão perde força e acaba sendo avaliado de maneira negativa, o que é reforçado por uma oração iniciada por um conector adversativo: “Mas mais frágil fica a bota”.
Nenhum dos ditados apresenta exatamente o mesmo tema do texto de Tavares.
Em “Para bom entendedor, meia palavra basta”, representa-se a capacidade de compreender algo que não foi explicitamente dito, que estava implícito, pressuposto. Ora, é exatamente essa a competência necessária para interpretar as figuras da “planta” e da “bota”.
Em “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, aparece o tema da persistência, da determinação, do esforço para vencer um inimigo que parece mais forte. Assim, a imagem de furar a pedra se assemelha à ideia de que “mais frágil fica a bota”.
Em “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”, tem-se o tema da vingança ou da reparação, da compensação. O “exército”, habitualmente forte, fragiliza-se depois de perturbar a sesta da planta, sofrendo danos semelhantes aos que ele costuma causar.
Em “Um dia é da caça, o outro é do caçador”, figurativiza-se a alternância de poder, com a inversão de papéis entre vitoriosos e derrotados. De alguma forma, no texto de Tavares, o “exército”, caçador por excelência, torna-se “frágil” como a caça.
Por fim, em “Uma andorinha só não faz verão”, o tema é o da união, da força da coletividade. De alguma forma, “planta” e “exército” podem sugerir atores coletivos, que se fortalecem por causa do grupo.
Se nenhum dos ditados tem exatamente o mesmo tema do texto de Tavares, qual o critério que o candidato deveria adotar para escolher aquele “que se relaciona melhor com o poema”? Em todos, é possível encontrar alguma relação. Optar pela “melhor” é um exercício de subjetividade.
O comando da questão é amplo demais e dificulta sua resolução, sobretudo porque estamos analisando textos figurativos, plurissignificativos por definição.