TEXTO PARA A QUESTÃO.

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.
Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.

*sesta: repouso após o almoço.

Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como

  • a

    uma defesa da natureza. 

  • b

    um ataque às forças armadas. 

  • c

    uma defesa dos direitos humanos. 

  • d

    uma defesa da resistência civil. 

  • e

    um ataque à passividade.

No plano literal, o poema de Gonçalo Tavares afirma que o exército é fragilizado ao pisar uma planta, “perturbada na sua sesta”. Embora o motivo dessa fragilização esteja implícito, pode-se inferir que ela resulta da própria agressão.
No entanto, para “captar a complexidade do poema” (conforme exigido no enunciado), deve-se considerar que os elementos concretos inscritos na superfície textual veiculam temas, defendendo uma visão de mundo. Nesse sentido, enquanto a figura do exército pode representar a força e o poder (especialmente do Estado), a planta, por oposição, simbolizaria os civis que, no contexto do poema, são agredidos. Para o eu-lírico, como resultado desse ataque, o poder se tornaria mais fraco.
Pode-se deduzir que um agressor militar (marcado no par “exército”/ “bota”) se fragilizará por efeito da resistência civil. Isso não implica negar uma defesa dos Direitos Humanos, considerando que as agressões promovidas por Estados foram, ao longo da História, marcadas por violações a esses direitos.
Considerando a validade das diferentes interpretações, ambas baseadas na plurissignificação do texto literário, julgamos pertinente que a Banca considere as duas alternativas como corretas.