TEXTOS PARA A QUESTÃO.
Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.
Graciliano Ramos, Angústia.
Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.
Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera
Gabarito Oficial: A
Gabarito Anglo: E
Os professores da cadeira de Português do Curso Anglo Vestibulares discordam do gabarito oficial proposto pela Fuvest.
A alternativa A, indicada como correta pela Banca, contraria as razões pelas quais o romance Angústia não faz concessões ao gosto do público. O próprio Graciliano Ramos destaca as imagens de podridão e de sujeira como fatores de afastamento dos leitores. Ademais, o público da época do autor não rechaçava nem a “atmosfera dramática” nem a abordagem das “tensões do tempo” (expressões da alternativa A). Se considerarmos a palavra “dramática” como aquilo que “causa forte emoção”, esse tipo de situação foi intensamente explorado pelos romances da “Geração de 30” – muitos dos quais são até hoje sucesso de público e de crítica.
A alternativa E usa de forma imprecisa a palavra “exaltar”. O verbo tem geralmente sentido positivo, mas significa também, segundo o Dicionário Houaiss, “dar ou atingir o grau mais alto de atividade, energia ou intensidade”. Um dos traços mais destacados de Luís da Silva, o narrador de Angústia, é justamente a força e a intensidade com que descreve ambientes degradados. A recorrência dessas imagens repulsivas permite considerá-las alegorias, tanto do estado mental perturbado do narrador, quanto das relações sociais de seu tempo.
Quanto às demais alternativas, pode-se lembrar que o romance não elimina a "expressão individual", já que apresenta um narrador em primeira pessoa, o que invalida a alternativa B. Luís da Silva não envereda em nenhum momento pelos caminhos da sátira, como afirma a alternativa C, e nem tampouco adota uma postura ingênua, o que descaracteriza a alternativa D.