Texto I

Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores.

Se corres, bicho te pega, amô.
Se ficas, ele te come.
Ai, que bicho será esse, amô?
Que tem braço e pé de homem?
Com a mão direita ele rouba, amô,
e com a esquerda ele entrega;
janeiro te dá trabalho, amô,
dezembro te desemprega;
de dia ele grita "avante”, amô,
de noite ele diz: "não vá":
Será esse bicho um homem, amô,
ou muitos homens será? 

(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.)

Texto II

Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.

Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge

  • a

    resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens.

  • b

    reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel.

  • c

    evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos.

  • d

    confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens.

O texto I resgata a temática do cordel, pois trata de um impasse vivido por trabalhadores, figurativizado em diferentes versões da fórmula "Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come". Esse impasse pode remeter, por exemplo, à situação de trabalhadores que se encontram ou empregados e exploradores, ou desempregados e empobrecidos. O último quadrinho rompe com o impasse, ao indicar que a luta de trabalhadores unidos faz "o bicho" fugir, ou seja, resulta em vitória diante de grupos que realizam a exploração.