No conto “O espelho”, de Machado de Assis, o esboço de uma nova teoria sobre a dupla natureza da alma humana é apresentado por Jacobina. A personagem narra a situação em que se viu sozinha na casa da tia Marcolina.

“As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula, tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior como um piparote contínuo da eternidade.”

Considerando os indicadores da passagem do tempo na citação, é correto afirmar que

  • a

    o movimento oscilante do pêndulo do relógio expressa a duplicidade da alma interior.

  • b

    o som do velho relógio da sala materializa acusticamente a longevidade da alma interior.

  • c

    a sonoridade repetitiva do pêndulo intensifica as aflições da alma interior.

  • d

    o contínuo batimento das horas sugere o vigor da alma interior.

A personagem Jacobina torna-se alferes, o que desperta uma grande admiração da família e dos amigos, e despeito dos que com ele concorreram ao posto. Logo em seguida, visita sua tia no interior, que, admirada com o posto do sobrinho, passa a tratá-lo apenas por alferes, no que é seguida pelos escravos da casa. Como consequência dessa grande admiração, a alma exterior substitui o homem. A ausência súbita da tia e depois a fuga de todos os escravos deixam Jacobina sozinho, sem nenhuma companhia humana; portanto todos os elogios cessam abruptamente. Como a alma exterior dependia desses elogios, ela se desfaz, restando a interior que não consegue dar conta da integridade do indivíduo. A permanência no sítio torna-se, assim, extremamente incômoda, sendo um dos elementos de angústia de Jacobina justamente a passagem do tempo destituído de sentido e que lhe é lembrado a todo momento pelo tic-tac do relógio, que fere sua alma interior.