Uma questão que acompanha todo o pensamento medieval, e é um foco permanente de tensão na filosofia cristã durante esse período, constitui o que ficou conhecido por “conflito entre razão e fé”. Mesmo os defensores da importância da filosofia grega admitirão que os ensinamentos dos textos sagrados têm precedência e, portanto, só podem ser aceitas doutrinas filosóficas compatíveis com esses ensinamentos. Podemos dizer que a leitura que os primeiros pensadores cristãos fazem da filosofia grega é sempre altamente seletiva, tomando aquilo que consideram compatível com o cristianismo enquanto religião revelada. Portanto, o critério de adoção de doutrinas e conceitos filosóficos é, em geral, determinado por sua relação com os ensinamentos da religião. Nesse sentido, privilegia-se sobretudo a metafísica platônica, com seu dualismo entre mundo espiritual e material.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2004. Adaptado.)
a) Qual o nome da teoria dualista formulada por Platão, indicada no texto? Explique essa teoria.
b) Em que consiste o conflito entre razão e fé, no período medieval, abordado pelo texto? Explique como esse conflito contribuiu para a “seleção” do dualismo platônico pelos primeiros pensadores cristãos.
a) A teoria dualista a que se refere o texto é a teoria das ideias, do filósofo grego Platão. Para o espaço e o tempo disponíveis, essa teoria envolve a dualidade entre um mundo das ideias (formas perfeitas) e um mundo dos sentidos (aparências ilusórias). Segundo Platão, aquilo que percebemos pelos sentidos é uma cópia imperfeita de uma essência ideal, a qual só pode ser acessada por meio do pensamento. Graças ao contato da alma com as ideias, anterior à experiência, é que podemos conhecer – ou seja, o conhecimento tem relação com a memória ou reminiscência.
b) O conflito entre razão e fé, um dos principais eixos da filosofia cristã no período medieval, envolve questionamentos a respeito do problema do conhecimento: se a verdade pode ser obtida, isso ocorreria por meio da razão, da fé ou de ambas? Também seria possível mencionar a teoria da iluminação divina de Santo Agostinho, que é uma reelaboração da teoria da reminiscência de Platão. Para o filósofo cristão, o conhecimento só é possível pelo contato do ser humano com algo prévio, que no seu caso, é uma espécie de centelha do criador na criatura.