Texto 1
No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. Francis Bacon, “o pai da filosofia experimental”, capturou bem a mentalidade da ciência que se fez depois dele. O saber que é poder não conhece barreira alguma. O que os homens querem aprender da natureza é como empregá-la para dominar completamente a ela e aos homens. Nada mais importa.
(Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Dialética do esclarecimento, 1985. Adaptado.)
Texto 2
A crise ambiental para a qual o modelo insustentável de desenvolvimento do ser humano conduziu a Terra tem facetas preocupantes: as mudanças climáticas ameaçadoras e transversais, a perda dramática de biodiversidade, a redução drástica da água doce disponível, a poluição letal do ar, a profusão de plásticos nos mares e oceanos, a pesca excessiva.
(Esther Sánchez e Manuel Planelles. “As mudanças sem precedentes necessárias para evitar uma catástrofe ambiental global”.
https://brasil.elpais.com, 13.03.2019. Adaptado.)
a) Com base no texto 1, explique o que seria o “desencantamento do mundo” e o “programa do esclarecimento”.
b) Relacione o princípio da ciência moderna, presente no texto 1, com a “crise ambiental”, descrita no texto 2.
a) O programa do esclarecimento – ou da razão iluminista – era promover a autonomia do ser humano, sua emancipação do pensamento místico e dogmático que escravizava o homem. Dessa forma, o esclarecimento promoveu o desencantamento do mundo, ou seja, a abolição de todas as formas de entendimento não relacionadas à razão.
b) O texto 1 apresenta a ciência moderna como um instrumento que possibilita a dominação, configurando uma forma de poder que não tem limites ou barreiras. Assim, os homens e a natureza passam a ser objetos de dominação, sendo que o modelo de desenvolvimento contemporâneo leva à crise ambiental apresentada no texto 2. Esse modelo seria insustentável, pois parte da tese de que os recursos naturais são infinitos. A conclusão é que o princípio da ciência moderna se opõe ao desenvolvimento ambiental sustentável e submete a natureza a uma lógica destruidora, responsável pelas mudanças climáticas, pela perda da biodiversidade, pela poluição do ar, entre tantas outras consequências que levam à crise ambiental à qual se refere o texto 2.