Leia os dois textos, escritos no final do século XVIII.
Texto 1
O grande dia, resultado da libertação, começava a me despertar; respirava livremente, quando vi diante de mim uma multidão em tumulto. Não fiquei surpreso... Aproximo-me e... oh! espetáculo de horror! Vejo duas cabeças na ponta de uma lança!...
Aterrorizado, informo-me... “São”, diz-me um açougueiro, “as cabeças de Flesselles e de De Launay...” Ouvindo isso, estremeço! Vejo uma nuvem de males pairar sobre a infeliz capital dos franceses... Mas a informação não estava inteiramente correta: a cabeça de Flesselles, o rosto desfigurado pelo tiro de pistola que há pouco acabara com sua vida, rolava nas águas do Sena. Eram De Launay e seu major que eu via ultrajados!
Prossigo: mil vozes de arauto para a Novidade... [...] Não acreditei e fui ver o cerco de perto... No meio da Grève, encontro um corpo sem a cabeça estendido no meio do riacho, rodeado por cinco ou seis indiferentes. Faço perguntas... É o governador da Bastilha...
Que pensamentos!... Esse homem, outrora impassível diante do desespero dos infelizes enterrados vivos sob sua guarda, por ordem de execráveis ministros, ei-lo!...
(Restif de la Bretonne. As noites revolucionárias, 1989.)
Texto 2
Oh! Aquela alegria me deu náuseas. Sentia-me ao mesmo tempo satisfeito e descontente. E eu disse, tanto melhor e tanto pior. Eu entendia que o povo comum estava tomando a justiça em suas mãos. Aprovo essa justiça [...] mas poderia não ser cruel? Castigos de todos os tipos, arrastamento e esquartejamento, tortura, a roda, o cavalete, a fogueira, verdugos proliferando por toda parte trouxeram tanto prejuízo aos nossos costumes! Nossos senhores [...] colherão o que semearam.
(Graco Babeuf apud Robert Darnton. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução, 1990.)
a) Cite o evento histórico a que o texto 1 se refere e a situação sociopolítica e econômica a que esse evento se opôs.
b) Identifique o elemento comum aos dois textos e explique a última frase do texto 2.
a) O texto 1 refere-se ao ataque e à queda da fortaleza prisão da Bastilha no contexto da Revolução Francesa.
Simbolicamente o ataque à Bastilha demonstrou a oposição popular ao Regime monárquico absolutista francês e a à sociedade baseada em privilégios estamentais, além da insatisfação generalizada causada pela crise econômica e desigualdade social.
O aluno poderia, também, mencionar em sua resposta, alguns exemplos específicos da situação sociopolítica e econômica francesa às vésperas da Revolução, como a distribuição dos impostos que privilegiava os estamentos superiores (clero e nobreza), a repressão política, muitas vezes violenta aos opositores da monarquia (como os presos da Bastilha), o elevado preço do pão, as manifestações públicas de descontentamento, ou outras, desde que de forma objetiva e sucinta como exigiu o comando “cite” das questão.
b) Os dois textos têm em comum o fato de serem documentos históricos na forma de relatos em primeira pessoa e descreverem a violência praticada pelos revolucionários populares contra os representantes da Monarquia Francesa.
A frase “Nossos senhores (...) colherão o que semearam.” pode ser explicada como uma justificativa para a violência perpetrada pelos revolucionários, visto que essa seria uma resposta aos abusos, à opressão e à exploração a que estavam submetidos.