Era esta uma das artérias principais da cidade e regurgitara de gente durante o dia todo. Mas, ao aproximar-se o anoitecer, a multidão engrossou e, quando as lâmpadas se acenderam, duas densas e contínuas ondas de passantes desfilavam [...].

Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas e seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum encontrão em outro passante, não mostravam sinais de impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, seu caminho.

(Contos de Edgar Allan Poe, 1986.)

O conto, originalmente publicado em 1840, apresenta um perfil das metrópoles do século XIX, destacando

  • a

    a solidariedade entre os habitantes, o desenvolvimento da cidadania e a força da indústria.

  • b

    o declínio das atividades comerciais, os ruídos incessantes das ruas e a solidão dos habitantes.

  • c

    a conformação de uma nova sensibilidade, o arcaísmo tecnológico e a imobilidade dos habitantes.

  • d

    o ordenamento do espaço urbano, o controle policial da circulação e o crescimento do desemprego.

  • e

    o crescimento populacional, a dinâmica da circulação urbana e a impessoalidade nas relações.

Com o advento da Revolução Industrial, as cidades passaram por grandes transformações ao longo do século XIX: as características medievais, como vielas e ruas labirínticas, perderam espaço frente às fábricas e vias arteriais, que alteraram a paisagem urbana, geraram novas demandas e relações. O excerto aborda algumas das características dessa “nova” cidade, nos apresentando a cidade como espaço de grande circulação de pessoas, onde as relações humanas se tornam mais distantes e impessoais e o indivíduo se torna mais um passante na multidão.