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Para responder a questão, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891.

— […] O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho.

(Quincas Borba, 2016.)



Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado em:

  • a

    “nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói”.

  • b

    “a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra”.

  • c

    “Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.

  • d

    “Daí o caráter conservador e benéfico da guerra”.

  • e

    “não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição”.

“Canonizar” significa, segundo o Dicionário Michaelis, “inscrever no cânone ou no rol dos santos”, isto é, seguindo as formalidades necessárias, considerar algo ou alguém oficialmente “santo”. No trecho, a expressão é utilizada em sentido figurado, pois o personagem refere-se ao ato de “enaltecer” ou “louvar em excesso” uma ação negativa ou destrutiva.