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Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder a questão.

Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)



No soneto, o eu lírico expressa um sentimento de inadequação que, a seu turno, se faz presente na seguinte citação:

  • a

    “A independência, não obstante a forma em que se desenrolou, constituiu a primeira grande revolução social que se operou no Brasil.” (Florestan Fernandes. A revolução burguesa no Brasil.)

  • b

    “Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo.” (Caio Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo.)

  • c

    “A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. A descoberta das terras americanas é, basicamente, um episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século.” (Celso Furtado. Formação econômica do Brasil.)

  • d

    “Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil.)

  • e

    “A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de ‘raça’ e de ‘religião’ do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora.” (Gilberto Freyre. Casa - grande e senzala.)

O texto de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, relata a influência da cultura estrangeira na formação cultural, étnica e social brasileira. Tais influências, segundo o trecho selecionado pela banca examinadora, fazem com que o povo brasileiro seja “desterrado em nossa terra”. Essa sensação de inadequação pode ser comparada com a perplexidade do eu lírico do poema de Claudio Manuel da Costa, que relata o desconhecimento de uma região antes conhecida, como se nota em: “Onde estou? Este sítio desconheço” e “quem fez tão diferente aquele prado?”.