Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte1,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
(Obra poética, 1997.)
1“andar a monte” : andar fugido das autoridades
Decorre da evasão empreendida pelo eu lírico
O poema se estrutura na ideia de que o enunciador não se resume a uma única personalidade, descobrindo dentro de si várias facetas igualmente verdadeiras, apesar de diferentes entre si. Todo esse processo demonstra a cisão psicológica do eu lírico.