O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?
José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão.
José de Alencar. Iracema.
Glossário:
“ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: tipo de palmeira espinhosa.
Com base nos trechos acima, é adequado afirmar:
O primeiro trecho foi retirado de um texto de José de Alencar, no qual ele desenvolve uma reflexão sobre o fazer artístico. Alencar defende a proposição de uma literatura nacionalista que se utilize de uma linguagem adequada ao ambiente em que se insere, de tal forma a estabelecer uma distinção entre a produção artística brasileira e a europeia. Assim, para o ambiente brasileiro, em que se encontram frutas como “o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba”, seria adequada uma linguagem dotada de cor local, isto é, referências específicas. Em Iracema, como se vê no segundo trecho, a utilização de termos indígenas (“ará”, “uru”, “crautá” e “juçara”) põe em prática a proposta da reflexão teórica do escritor.