Seria difícil encontrar hoje um crítico literário respeitável que gostasse de ser apanhado defendendo como uma ideia a velha antítese estilo e conteúdo. A esse respeito prevalece um religioso consenso. Todos estão prontos a reconhecer que estilo e conteúdo são indissolúveis, que o estilo fortemente individual de cada escritor importante é um elemento orgânico de sua obra e jamais algo meramente “decorativo”.

Na prática da crítica, entretanto, a velha antítese persiste praticamente inexpugnada.

Susan Sontag. “Do estilo”. Contra a interpretação

Consideradas no contexto, as expressões “religioso consenso”, “orgânico” e “inexpugnada”, sublinhadas no texto, podem ser substituídas, sem alteração de sentido, respectivamente, por:

  • a

    místico entendimento; biológico; invencível.

  • b

    piedoso acordo; puro; inesgotável. 

  • c

    secular conformidade; natural; incompreensível. 

  • d

    fervorosa unanimidade; visceral; insuperada. 

  • e

    espiritual ajuste; vital; indomada.

No contexto, o adjetivo anteposto na expressão “religioso consenso” não pode ser interpretado em sentido literal. Essa expressão faz referência a um acordo indiscutível, à maneira dos dogmas religiosos, que devem ser aceitos sem ressalvas, com o fervor da fé, portanto.

O adjetivo “orgânico”, em seguida, indica um dado inerente a um organismo, no caso, essencial para a constituição da obra literária, isto é, um atributo que faz parte da estrutura interna de um ser, como suas vísceras.

O adjetivo “inexpugnada”, por fim, significa que a antítese estilo-conteúdo, na prática da crítica, ainda não foi vencida ou enfrentada com sucesso, ou seja, não tinha sido, até aquele momento, superada.