(...)
Eu tenho uma ideia.
Eu não tenho a menor ideia.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde.
Autobiografia. Não, biografia.
Mulher.
Papai Noel e os marcianos.
Billy the Kid versus Drácula.
Drácula versus Billy the Kid.
Muito sentimental.
Agora pouco sentimental.
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o
seu amor de ontem.
Gertrude: estas são ideias bem comuns.
Apresenta a jazz-band.
Não, toca blues com ela.
Esta é a minha vida.
Atravessa a ponte.
(...)
(Ana Cristina Cesar, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 9.)
Esse trecho do poema de abertura de A teus pés, de Ana Cristina Cesar,
O excerto apresentado serve como exemplo da fragmentação na lírica de Ana Cristina César. Os versos apresentam frases curtas, de caráter aleatório, assemelhando-se a anotações soltas em um diário ou agenda. Esse tipo de expressão poética requisita uma atitude consciente e participativa do receptor no ato de leitura, uma vez que o sentido se constrói por meio de sugestões elípticas à vida da própria enunciadora.