Tal movimento não era apenas um movimento europeu de caráter universal, conquistando uma nação após outra e criando uma linguagem literária universal que, em última análise, era tão inteligível na Rússia e na Polônia quanto na Inglaterra e na França; ele também provou ser uma daquelas correntes que, como o Classicismo da Renascença, subsistiu como fator duradouro no desenvolvimento da arte. Na verdade, não existe produto da arte moderna, nenhum impulso emocional, nenhuma impressão ou estado de espírito do homem moderno, que não deva sua sutileza e variedade à sensibilidade que se desenvolveu a partir desse movimento. Toda exuberância, anarquia e violência da arte moderna, seu lirismo balbuciante, seu exibicionismo irrestrito e profuso, derivaram dele. E essa atitude subjetiva e egocêntrica tornou-se de tal modo natural para nós, tão absolutamente inevitável, que nos parece impossível reproduzir sequer uma sequência abstrata de pensamento sem fazer referência aos nossos sentimentos.
(Arnold Hauser. História social da arte e da literatura, 1995. Adaptado.)
O texto refere-se ao movimento denominado
Das duas grandes tradições que se costuma reconhecer na evolução artística europeia – a clássica e a romântica –, as vanguardas integram a segunda, em razão de alguns elementos associados ao Romantismo do século XIX. Entre esses elementos, o trecho de Arnold Hauser faz referência à “exuberância” (isto é, à tendência hiperbólica e emotiva), ao “lirismo balbuciante” (que faz pensar na estética do fragmento, tão presente no movimento romântico quanto nas vanguardas), e, acima de tudo, à “atitude subjetiva e egocêntrica”, traços muito fortes da expressividade romântica.